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15 de julho de 2014

Sentimentos Cardios

Estava bem frio naquela manhã, mas, mesmo assim, optei por sair da cama cedo. Era uma quarta-feira, lembro-me bem. A casa estava vazia e o único barulho era o tic tac atordoante do relógio na cozinha. Levante-me rapidamente e, quando dei por mim, já estava arrumada para sair. Preferi não comer. Melhor não alimentar a ansiedade. Na rua, andava ligeiramente na frente dos vidros dos carros, afim de não me ver. Logo cheguei ao prédio do Dr. García, cardiologista. Sentei-me no sofá duro da sala de espera ao lado de um homem que respirava ofegantemente. Ele, sem tardança, puxou assunto, falando do quanto estava doente, do quanto sentia dores no peito. Perguntou o que eu tinha e respondi-lhe com algumas palavras que não me lembro, mas sei que busquei fugir do verdadeiro. O pior aperto é aquele que não nos damos conta que existe. A respiração falha do homem começara a me irritar. O ar também me faltava, porém era outro ar; um ar interior, que tem a função de espaçar os órgãos. Os meus estavam tão próximos... Queriam fugir aparentemente. A enfermeira chamou-me e corri em direção à sala do médico. Entrei no consultório e ele lançou-me um olhar sarcástico. Simplesmente não o olhei, prestando atenção nos quadros pendurados na parede. Maldito relógio! Então, ele me questionou o porquê de estar ali. Respondi que queria saber de qual lado ficava o coração. - Esquerdo. Agora, diga o que você sente. Dores? - Sim, doutor. - Explique-me mais. - O sr. poderia explicar-me sobre esse órgão? E ele o fez. Ao sair do local, deparei-me com ruas mais quentes. Segui o caminho de volta para casa. Enquanto isso, pensava sobre os dizeres do médico que estudara tanto! Explicou-me tudo. Mas de nada serviu, ouso dizer. Não duvido de sua capacidade, porém minha cabeça não aceita definições tão teóricas, feitas por gente que finge não sentir. Os corações que ele estudara de nada pareciam com o meu. O meu não fica do lado esquerdo. Nem do direito. Nem no centro. Não tem forma. Ele ora flutua, ora rasteja pelo meu corpo. Não podendo pôr as mãos no mundo, guardo fotos tiradas pelos meus olhos. Em meu coração, cabem as normalidades e seus antônimos. Cabe o diferente mas também o igual. Há fadas; e uns monstros de cara feia. O meu coração é a caixa de Pandora.

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