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21 de agosto de 2014

Voz do Vento

   Enquanto subia sozinha aquela rua úmida, pensava sobre o que cozinharia para o almoço. Não queria comer carne novamente...
   De súbito, ouvi uma voz. Uma voz que desconhecia e que tinha um cheiro. Sim! A voz cheirava! E muito bem!
   Olhei para os lados, mas estava completamente sozinha. Sabia que não tomava os remédios há um tempo, porém será que enlouquecera de vez?
   Escutei a voz novamente e estava mais forte. Logo gritei:
   - Quem está ai?
   Ouvi de novo a voz, mas não conseguia distinguir o que ela dizia.
   Parei por um instante, coloquei minhas sacolas no chão e exclamei pedindo:
   - Vamos! Fale comigo!
   E finalmente! Compreendi seus dizeres! A voz perguntava se eu estava bem e respondi-lhe que sim, estava!
   Ela sumiu...
   - Volte! Por favor! - gritei.
   Mas nada.
   Ouvir bem o vento não era tarefa fácil. Sua voz era suave e áspera, ao mesmo tempo. Foi a primeira vez que consegui conversar com o doce filho de Iasã.
   Peguei minhas sacolas do chão e tornei a andar como antes. Como se o vento quisesse concluir apenas, ouvi, de forma abstratamente concreta, a última frase e incorporei sua filosofia a minha vida:
   - A certeza é a pior embriaguez.