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30 de maio de 2014

Liberdade Assistida

   Era uma vez... Não, não era uma vez. Estou farta da obrigação de um final feliz que há nas histórias que começam assim e que impregnam em nossa cabeça quando crianças, marcando-nos até os fins dos dias. Tenho sérios problemas em distinguir o que é final. Não me interessa também a palavra ''feliz'', pois esta - e outras muitas - buscam inutilmente nomear essas coisas que apertam o peito e que nos instigam a sabermos até onde nossa alma vai. Então, não, não era uma vez.
   Todos os dias vou comprar pão na padaria do Seu Fábio. Até que ele é simpático e vende um pão macio. E sempre, sempre mesmo, vejo um homem que me olha fixamente e tem um andar cambaleante. Acredito que ele fica no bar a noite toda e, pela manhã, perambula pela rua.
    Certo dia - especial, pois chego ao ponto de querer relatá-lo - quando o olhei, senti um calafrio no corpo e ao mesmo tempo uma sensação de não estar no real e deparei-me como telespectadora de mim. Desta forma... Sem vírgula. Sem espaço para pensar no que poderia estar acontecendo. Sem tempo para confirmar minha sensações. Sem vão para respirar.
   Logo voltei ao aparente normal, aquele aceitável. Continuei a andar e logo cheguei à padaria.   Cumprimentei o padeiro e comprei os pães.
   Ao chegar em casa, senti novamente aquela estranheza...
   Houve outras vezes e a cada passagem por este desconhecido mundo, ficava mais aflita.
   Criei diversas hipóteses para descobrir o que e porquê estava sentindo esse aperto que é seguido por uma película, que se passa dentro de mim, cuja protagonista principal sou eu e, simultaneamente, observadora do meu filme.
   Após alguns dias, tomei consciência que é inútil frustar-se por isso, já que meu mundo não está em minhas mãos. Depois de muitas teses, resolvi seguir uma das primeiras que pensei: sentar e me assistir.

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