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28 de maio de 2014

Retrato

Lembro-me bem que logo após virar aquela esquina suja, vi-o dançando no meio da rua. Seguia um ritmo caloroso e a melodia que o embalava era a surda canção do vento.
Deu-me a impressão que tinha um bambolê imaginário no corpo e que não podia deixá-lo cair e, por isso, sacudia-se tanto. O meu já caíra há tempos...
Um grupo bobo de adolescentes passou por ele e não faltaram olhares medíocres, insinuando que o bailarino - sim, bailarino - era ridículo.
Ridículo sou eu, homem de 30 anos, com um trabalho desprezível e um bambolê quebrado.
Continuei a olhá-lo e principalmente admirá-lo. Sanidade é inútil.

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