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18 de setembro de 2013

Míssil

  Sentou-se na mesa de jantar. Ajeitou a gravata e pôs o guardanapo sobre as pernas. Tratou, ainda, de fitar a si mesmo para ver se estava apresentável.
  Os demais olharam-no infinitamente, duvidando do que estavam vendo. Homem charmoso, com um sorriso misantropo. Mesmo não sendo um poço de simpatia, todas as pessoas do vilarejo queriam-no presente. Nada tinha ele. Nada ele tinha.
  Dono do casarão, Antônio, não se cansava de olhar para tal ser. Convidara-o para entender o que há de tão mágico nele, pois outros já comentaram sobre o quão impetuoso o moço era. Pois estava ali, frente a frente, à espera de algo inusitado.
  O ar culto continuou. A esposa de Antônio olhava também para o alvo, se é que posso chamá-lo assim.
  Era uma mulher com longos cabelos negros e dona de um timbre melódico, o qual pertencia inteiramente a seu amado.
  Com a mão direita para trás e a esquerda rente a respectiva perna, entrou pela estreita porta, então, um garçom com elegância descomum. Vestira um terno preto e uma gravata borboleta azul. Seus olhos transmitiam ganância. Atravessou a sala escura e a cada passo, andava com uma fineza infalável. Infalável, pois nada - absolutamente nada - é inescrevível.
  Enquanto isso, o silêncio servia-se das três pessoas que se encontravam na mesa. Mas seus olhos diziam...
  Logo, o garçom encostou na parte de trás da cadeira onde estava o convidado.
  Caiu no chão suditamente. O sangue impuro esparramou por todo lado e penetrou no olhar de Antônio:
  - Obrigado. Agora, pode sair.
  O proprietário, que tanto queria ser surpreendido, organizou a si mesmo um espetáculo.
  Ele e sua mulher levantaram-se e foram para o quarto. Lá, morreram de amores.

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