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20 de novembro de 2013

Modus Operandi

  - Gosta de bolo de fubá, muleque?
  - Não sei...
  A incerteza pertinente que havia dentro de João José, com seus cabelos encaracolados e olhos apalermados, causava aflição a todos.
  - Ora! Não sabe se gosta?
  - Ãn?
  - Esqueça!
  Foi assim desde cedo. Morava com os avós, pois seus pais abandonaram-no enquanto ele ainda estava no útero.
  Os pensamentos de João José haviam desvanecido ao longo do tempo. Pensara demais até sua fase adulta. Após seus quarenta anos, já com marcas precoces da velhice, desencantou de suas reflexões, quaisquer que eram. Em sua juventude, quisera definir o que era o presente. Encontrou no dicionário um significado que não o contentou. Matutou, então, que o presente não passava de um passado duvidoso e de um futuro inconstante. Ele, sem tardança, assumiu que a vida lha mostrara o quão vagas são as definições.
  João José procurava, frequentemente, sinais querendo saber onde estava. Bobagem! Logo soube - e deveria agradecer aos Céus por isso - que tampouco importa as características de um local, pois eles não ditam onde verdadeiramente estamos. Esses aspectos estão em nós.
  João José não ouvia. O Universo era demais para ele.
  João José não gostaria de ler este texto. Acreditaria que a repetição de seu nome só mostraria que ele é vazio. João José gosta do novo, mesmo não sabendo aproveitá-lo. Há estrias na alma de João José.
  João José, em certo dia de suas loucuras, penso que sua existência poderia ser resumida com duas palavras: amor e ódio. Mas, veio-lhe outra pergunta: se a existência é definida por amor e ódio, a morte é definida pelo quê?
  Não se martirizou por criar essa questão que o estilhaçava. Porém, nunca mais, segundo ele, criaria nenhuma pergunta. Respeitou essa decisão até dois dias após sufocar-se com sua própria morte, pois foi então que desvendou o mistério: amor é morte, ódio é vida.

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